Ângela França Pedrinho, Engenheira | Pós-Graduada em Arquivologia | Vice-Presidente da AFPF, em https://www.afpf.com.br/ | Inspetora Financeira do Crea-RJ, Petrópolis / RJ
A preservação guarda a memória registrando ações de caráter histórico e promovendo o conhecimento, fonte de pesquisa do patrimônio.
Preservar é a única forma de se manter a identidade cultural de um povo. A preservação traz aspectos históricos, seja nas ferrovias ou em qualquer outro setor.
Como as ferrovias desempenharam um papel preponderante para o desenvolvimento do Brasil nos séculos anteriores, essa preservação é fundamental para permitir que a sociedade conheça mais sobre sua importância e que, através desse conhecimento, ajude a fomentar a volta do setor a se desenvolver de maneira eficiente, como era durante o fim do século XIX e início do século XX.
Quando se fala em preservação histórica no país, todos os aspectos ainda são muito defasados. É necessária a criação de políticas públicas de preservação e a sociedade precisa estar organizada, para que possamos transformar todo esse belíssimo e rico patrimônio em Centros Culturais, bibliotecas temáticas, espaços educativos e rotas turísticas, desenvolvendo um turismo cultural, histórico, pedagógico e industrial.
Vagões abandonados, sucateados pelo país a fora, podem se transformar em cinemateca, videotecas ou até mesmo em espaços de lazer. Temos um potencial gigantesco neste setor que precisa ser valorizado, preservando suas características e dando pertencimento aos municípios que outrora fizeram do trem o seu principal meio de transporte e desenvolvimento.
E como preservar?
Pela proteção legal do tombamento, conservação, restauro, arquivo e documentação.
Existem obras de arte belíssimas que a Engenharia Ferroviária integrou ao quadro paisagístico de alguns locais, como a do sítio do Itamaraty, lugar de memória do passado ferroviário de Petrópolis; a ponte férrea Leopoldo Teixeira Leite construída pelo engenheiro Paulo de Frontin, em Paraíba do Sul, com estrutura de ferro de origem inglesa, por onde passava o ouro, recebendo este nome em homenagem ao presidente da câmara no período da sua construção; e o Viaduto Paulo de Frontin, em Vera Cruz, no município de Miguel Pereira, construção de arquitetura belga e considerado o único viaduto de ferro e em curva no mundo, que não podem ser esquecidos no passado.
Estação Barão de Mauá
Nos útimos anos, grandes espaços de preservação ferroviária encontram-se fechados e em péssimo estado de conservação, por falta de cuidados e investimentos em manutenção, como é o caso da Estação Barão de Mauá, conhecida como Leopoldina.
Inaugurada em 1926, destacando-se naquela época pela imponente beleza de um projeto desenhado pelo arquiteto escocês Robert Prentice, inspirado nas estações inglesas "eduardianas" do século XX, muito elogiada por estrangeiros admiradores de boa arquitetura.
Marco histórico da ferrovia, por registrar o primeiro trecho ferroviário do país, construído durante o Império e amplamente utilizado pela Família Imperial. Tombada na década de 1990 pelo IPHAN e pelo INEPAC, por ser considerada patrimônio cultural, histórico e arquitetônico da cidade do Rio.
Em qualquer país do mundo essa construção já teria sido transformada em um belo museu, como a própria Estação da Luz, em São Paulo, que abriga o Museu da Língua Portuguesa.
Não podemos deixar que este monumento que não é só ferroviário, mas de parte da história da cidade do Rio de Janeiro e do Brasil, desapareça.
Estação Guia de Pacobaíba
Outro ícone é a Estação de Guia de Pacobaíba, a primeira estação de trem do país e já, naquela época, era uma estação de integração das modalidades de transporte aquaviáro e ferroviário, introduzindo a primeira operação intermodal no Brasil.
Anos mais tarde foi perdendo sua importância, sendo a ligação marítima desativada e a estação funcionando apenas com trens locais até 1962, quando o serviço de trens de passageiros foi extinto e a estação abandonada.
Museu do Trem
O Museu do Trem, tombado pelo IPHAN, é uma das maiores referências da memória ferroviária do país, com mais de mil itens no seu acervo, considerado de valor histórico e cultural, abrangendo equipamentos ferroviários, mobiliário e até locomotivas como a Baroneza, construída na Inglaterra, movida a vapor e a primeira a trafegar na estrada de ferro de Petrópolis, considerada monumento cultural pelo IPHAN.
O prédio abrigou o maior conjunto de oficinas de locomoção da América Latina. O Museu e a sua coleção pertenciam à RFFSA e, quando da sua extinção, o acervo foi absorvido pelo IPHAN.
Um dos principais destaques são os vagões usados pelo Presidente Getúlio Vargas e pelo Rei Alberto, da Bélgica, quando esteve no Brasil, em visita oficial no ano de 1922.
Existe um trabalho incessante para que a memória do sistema ferroviário não se perca no nosso Estado, sendo preservada e cuidada. Essa é a luta da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (AFPF), para não permitir o seu abandono.
Temos vários projetos nesta área, desenvolvendo ações para a valorização e incentivo da ferrovia, através de debates, palestras, concursos e conferências, com o objetivo de estimular a sociedade nesta temática.
Ângela França Pedrinho, Engenheira com Experiência em Mobilidade Urbana e Pós-Graduação em Arquivologia | Vice-Presidente da AFPF, em https://www.afpf.com.br/ | Inspetora Financeira do Crea-RJ, Petrópolis / RJ
Incrível matéria sobre a preservação ferroviária, que deve ser prioritária para a manutenção da história das ferrovias e dos trens no país. Ângela captou a mensagem e está de parabéns!